terça-feira, 23 de junho de 2009

CONTO

Com todo o meu peito na boca. Peito de taça ele dizia e eu não entendia, peito de taça, peito de taça ele dizia, e ali com todo meu pequeno peito dentro da sua boca eu fechava os olhos e tentava fazer alguma oração; ave-maria cheia de graça santificado seja o vosso nome, não, ave-maria cheia de graça, ave-maria cheia de graça... o resto eu não lembrava, mas fechava os olhos com força e pedia pra ser salva. Eu era uma flor, uma índia diaba, uma gata com olhos de vidro e pedia pra ser salva, desesperadamente salva, e não podia eu não sabia. Eu me oferecia ao menor sinal de afeto porque era ali nos poros dilatados, na carne, no centro da boceta, em estocadas grotescas que eu sentia, ali que me depositavam certa confiança e generosidade, ali que eu via uma oportunidade de ser salva, no oco do mundo que sobrava pra mim, e preenchia de gozo quente o abismo infinito que carrego dentro do meu útero, meu útero torto, a aquela boca no meu peito é o filho que eu abortaria no dia seguinte, um feto enjaulado no âmago puro da minha maternidade inexistente. Eu queria exaltação, movimento e não um curso calmo de existência, queria perigo, excitação e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor, sinto em mim uma superabundância de energia que eu não encontrava, eu queria algo mais, queria algo tangível e buscava a realidade intensamente sempre como se ela estivesse ao único alcance da minha boceta. Uma mulher quando abre as pernas pra alguém morre um pouco, porque ali está o mundo inteiro dela, uma beleza incorrupta, viva, pulsante. Eu tenho o mundo que eu crio, o mundo que me sobra, que me cabe, o mundo que eu conheço, eu só pedia pra ser salva. O problema é que eu ainda tenho uma falsa ideia de humanidade, mas tudo bem eu digo a mim mesma, ainda posso arranjar uma boa foda, é amargo tem fiapo, sabe eu podia fazer algo grande, eu podia ser grande, grande, mas eu fodo e sinto o mundo vivo entre as pernas, fecundante, no meu centro de tudo, eu vejo o podre se tornar um podre belo, eu quero o sujo, o obsceno, eu quero o genuíno, o verdadeiro. Meu corpo é um laboratório de experiências, algumas agradáveis outras nem tanto, eu abrigo tudo aquilo que me faça sentir a coisa pura, e transmuto, metamorforseio-me. E as vezes o quarto fica enorme, as paredes crescem, o teto chega no céu e eu pareço uma ratinha no canto, e nessas horas eu apelo pro amor, ah o imperativo, e não saio do lugar nessa porra de mundo, o jeito é mudar, criar rotinas, trabalhar catorze horas por dia e ter um salario miserável, qualquer coisa que sustente uma ilusão de controle. Certamente tempos fodidos, e eu vou contra o fluxo - o meu próprio, inclusive - eu sou um poço de hipocrisia. Eu era uma flor, uma índia diaba, uma gata com olhos de vidro. Eu queria almejar apenas o suficiente, sem oferecer muito, sem receber muito, sem esperar muito, apenas o suficiente. Uma alegria suficiente, uma tranquilidade suficiente e talvez um cachorro, livros, música, um microondas e uma cafeteira. O amor sempre me foi um eco que me confundia, eu gritava e ele respondia, continuo gritando nessa busca incessante por mais, só me resta isso aqui, minha pequena porção de liberdade ilusória, não espero te emocionar com isso, quero mais é enfiar um pau no cu dos que se emocionam, isso aqui é a minha catarse, egoísta e mesquinha.

Thais Veronica

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